Me Conto, Conto Meu - Intriga:I e II

Começo a postar aqui, um conto que aqui escrevo, chamado Intriga.

Intriga

Crédito de imagem para a James Leone

Carlos - Capítulo 1- Tontura, armas e invasão

Nunca gostei de ser comparado, sempre foi algo que me zangou, mesmo quando criança. É uma necessidade de quem quer marcar, ser único.
Não entendia porque, esta era a única coisa que estava em minha mente. Demorou alguns minutos para eu reconhecer que ainda estava em meu próprio quarto, e para os objetos triplicados que eu enxergava pela tontura, tornassem ao menos duplicados.Quando isso aconteceu, resolvi sentar-me na minha cama.Como reflexo total, apenas peguei a arma que sempre guardo junto aos meus pés.Isso me trouxe uma sensação de segurança,como de costume. Se eu dormi e amanheci com a arma em meus pés, tudo estava dentro da normalidade.

Doce engano: levantei-me e fui ao banheiro lavar o rosto e a mão. Aquela tontura uma hora teria de parar. Até já estava melhorando, com os dois espelhos tornando-se um.Talvez tenha sido a falta do remédio somada a um porre, o que explicaria o fato de eu não me recordar de nada.Entretanto, minhas pálpebras se atentaram, ao colocar a mão no sabote.Droga, ele estava úmido, e eu sempre odiei sabonetes assim: eles deviam estar sempre secos, nem mesmo em meu pior estado, eu deixaria um sabonete úmido.Logo percebi, em contraste com um som da porta de meu quarto abrindo, que não estava sozinho.Deveria pensar rápido,talvez pegar a arma e atirar fosse minha melhor opção.Mas a quem eu iria enganar, no meu estado atual, acabaria acertando meus próprios pés.Apenas me virei para ver quem eu avistaria em minha residência.

Antes se eu tivesse atirado freneticamente e destruído tudo, o choque não seria tão grande quanto o que eu olhei.Na minha frente, a mulher do vestido púrpura, outrora a mais desejada de toda cidade. As belas curvas que seu corpo apresentava ainda eram exuberantes, e não havia homem que não tremesse apenas com a intimidação daquele olhar. Comigo, nunca foi diferente. Os boatos diziam que a beleza de Clara era uma arma mais forte que a persuasão do mais sagaz religioso ou político, e seu olhar mais mortal que um tiro de uma Magnum. Sua presença em meu quarto, no seu mais clássico vestido púrpura, aumentou minha confusão junto a tontura, que me fez crer que eu deva ter ingerido algo mais forte que apenas álcool.

-Senti sua falta - foi o que os lábios dela sussurraram, da forma mais sexy de sempre.

- Você... Você deveria estar morta- resolvi dizer, gaguejando, aquela visão apesar de deslumbrante, era tenebrosa, fazendo qualquer um desejar ser preso por membros da Yakuza, mas não pelo olhar daquela mulher.

-Você anda acreditando muito nos boatos por aí, não é.

-Na verdade não - respondi, colocando a mão na cintura - É muita ingenuidade achar que algum desses traficantes da cidade teria culhões ou mesmo capacidade para te atingir.

Era agora, eu tinha a chance de puxar a arma e apertar o gatilho. E é isso mesmo que vou fazer.Saco minha melhor arma, e a aponto para a cabeça dela, jogada arriscada, bastava puxar o gatilho.Infelizmente, o maldito olhar verde dela realmente funcionava; ninguém conseguiria puxar o gatilho conta aquela dama.

- Por que não atira?- provocou ela, com seus lábios cada vez mais sensuais - Você sabe que ninguém é capaz.

- Então, eles mandaram me buscar?- perguntei já ciente do destino que acabava de ser traçado para mim, a dor na cabeça apenas aumentava.

- Não, Carlos. Não trabalho mais para aqueles malditos agentes federais.

Aquela resposta simplesmente foi um alívio. Pude abaixar a arma, suspirando aliviado.

-Então, o que você quer? - perguntei, com meu jeito rude de sempre.

- Apenas estava com saudade de ver você. Sei que em breve você virá me procurar, e então teremos negócios a tratar.

-E porque eu procuraria você?

Minha cabeça latejava cada vez mais.

- Dois simples motivos meu caro- a beleza dela começava a triplicar diante de minha tontura - você já deve ter percebido que a tontura que está sentindo agora não é resultado de alguma de suas bebedeiras exageradas, e sim um dos meus trabalhos e...

-Que porcaria você me injetou?- indaguei enfurecido.
A beleza de Clara sozinha nada era. Para sua sorte, ela ainda era a maior especialista existente em venenos. O que queria dizer, é que se ela quisesse, eu estava realmente fodido.

-Nada que vá matar você, não por enquanto, pelo menos. Nas primeiras horas, este veneno te deixará tonto, desacordado. Mas se você usar o antídoto em grande tempo, ele acabará consumindo todo seu cérebro, gerando na melhor das hipóteses, a morte.

-Usando um de seus golpes para me obrigar a ir atrás de você e conseguir um antídoto. Muito baixo.

-Você vai ter outro motivo para ir atrás de mim- respondeu ela, visivelmente incomodada com o meu tom de voz.

- Ta aí algo que eu pagaria pra ver - respondi, debochando dela.

-Dentro de algumas horas, os federais vão estar aqui pra te buscar.

-Impossível, eles nunca descobririam onde eu moro, ainda mais sem você do lado deles.

-Desculpe Carlos, mas nesta situação, foi necessário te dedurar.

Naquele momento, minha vontade era levantar minha arma e descarregá-la no belo corpo que eu via. Não tive tempo, entretanto, para pensar nisso, pois uma bala certeira de Clara acertou-me no ombro, dando-me o que precisava para eu cair no chão. Minha tontura agora realmente estava forte, e a consciência se dispersava.A ultima coisa que ouvi foi a voz de Clara, sussurrando algo como:

-Você consegue...

Carlos - Capítulo 2 – Não importa, apenas atire.

Argh, minha cabeça doía. Novamente o espírito porco que senti ao acordar nesta manhã. Exceto que desta vez foi bem mais rápido para lembrar-me do ocorrido e para gravar em minha cabeça o nome de Clara e a vontade de assassiná-la a qualquer preço.

Mas não me acordei porque os venenos dela estavam cronometrados. A leve batida que ouvia em meu sonho e que havia fortalecido agora, então era real. Os federais não gostavam de bater forte, para não fazer seus bandidos fugirem pelas janelas, assustados como galinhas.

-Já estou abrindo – respondi calmamente, afim de não assustá-los também.

Peguei a espingarda cano cerrado que guardava em meu armário e atirei, uma vez, arrebentando a porta daquela porcaria que os donos chamavam de apartamento. Finalmente, um pouco de liberdade e ação. Três policiais entraram com suas armas apontadas. Eram claramente novatos, pois não sabiam com quem estavam lidando.

-Isso são modos de entrar na casa de um homem?- indaguei, ironizando com os soldados.

- Cale a boca, seu monte de merda!- respondeu furioso o capitão da equipe.

-Tudo bem, vamos lá para fora – respondi, iludindo-os e sendo arrastado com suas armas apontadas – não quero sujar a droga do meu tapete com vosso sangue.

Antes que os dois novatos pudessem reagir, os pobre coitados já estavam mortos. Um dos imbecis havia tido a brilhante idéia de tirar sua proteção da cabeça para respirar melhor. É fácil esmagar um crânio jogando- o contra um capacete dos federais, aquelas drogas ainda eram extremamente resistentes. Mais fácil ainda era usar a mão do cadáver para explodir a cabeça do outro. Em um golpe só, os dois iniciantes haviam se aposentado para sempre.

Entretanto, o efeito do veneno era bastante prejudicial. Por detalhes, um tiro passou ao lado da minha cabeça, acertando na parede.

-Essa foi por pouco, não foi?- falei para o enraivado capitão.

Um simples chute em um braço, quebrando-o é suficiente para desarmar qualquer federal e fazê-lo urrar de dor.

-Seu maldito, você quebrou a porra do meu braço!

O capitão até poderia me atirar com sua pistola, como tentou fazer, chegando até a sacar a arma. Entretanto, não era hora para iludi-lo com falsas vantagens, e desferi-lhe um simples coice no pescoço, arrebentando-o e acabando com o ultimo maldito federal. Sinceramente, achava que eles mandariam coisa melhor para me caçar. Não se faz mais soldados de elite, como a minha geração.

Caminhei até a frente do velho elevador, e percebi que ele estava subindo, então resolvi aguardá-lo. Não me surpreendendo, novamente, um grupo de federais. Desta vez, apenas um tiro no cabo do elevador foi suficiente. Humanos normais não costumam sobreviver a grandes quedas como esta. Logo depois percebi a besteira que fiz: vou ter de usar as escadas.

Desço então sem pressa. Os malditos devem ter mandado algo tipo um pelotão classe B para cuidar de mim. Esses novos chefes de comando, subestimando os velhos procurados, como se eles fossem se aposentar a qualquer hora. Melhor para mim.

Com os próximos dois federais que surgiram na minha frente, resolvi economizar balas, atravessando seus crânios com o cano de minha espingarda de uma só vez. Sabia que esses estreitos corredores que mal conseguia passar me seriam úteis qualquer hora. Chego então ao primeiro andar, e agora já não preciso mais me preocupar em gastar balas. Coloco minha espingarda cano cerrado nas costas e pego duas Uzis de minha jaqueta. A diversão estava só por começar.

Saio do prédio, abandonando meu abrigo, ouvindo uma voz gritando para mim.

- Carlos, se entregue, você está cercado e não tem chance contra nós.

Sinceramente, me pergunto se ele realmente acreditava no que dizia. Descarrego minhas metralhadoras naquele enorme pelotão de federais que cercavam o prédio. Fazia tempo que não enfrentava tantos cachorros assim. Em pouco tempo, estavam quase todos mortos, até porque a maioria deles fazia-me o favor de errar boa parte dos tiros, baleando assim seus companheiros.

As poucas balas que me atingiram, estavam realmente doendo, o que me faz achar que este veneno está deixando meu corpo mais sensível. Mais doloroso ainda era o que eu resolvo fazer com o comandante do pelotão. Era irresistível esfregar a cara dele no asfalto, até conseguir algumas informações.

- Eu não sei! Eu não sei por que te caçam! Só recebi a ordem de levar você vivo para o delegado Joe.

- Então o delegado Joe mandou você me trazer vivo?

Sinceramente, esperava que o delegado fosse mandar algum grupo de mercenários me caçar, fazendo um trabalho mais profissional para os federais. A ética e parecia ter sumido daquela delegacia mesmo.

- Obrigado pela informação.

Só um tiro já era o suficiente para aquele homem. Matar cruelmente quem colabora tão facilmente não é de meu feitio. Agora me resta descobrir porque o delegado também está interessado em falar comigo, a ponto de usar um batalhão federal para me caçar. Se um demônio quer oferecer um banquete de honra a outro demônio, então é melhor eu arrumar uma boa roupa para o jantar. E de preferência, uma capaz de causar muito sofrimento. Esta na hora de visitar dois velhos amigos, e então me acertar com Clara. O primeiro deles, Ericson: o maior traficante de armas que eu conhecia, e também meu antigo inimigo. Dele, conseguiria as vestes para o honrado banquete, e também para a sobremesa que teria com Clara.